Todos os dias me deparo com pessoas buscando ‘assessoria’ para
burlar a regra comum de apresentar à faculdade um projeto final de monografia.
Em primeiro lugar, é difícil nos distanciar do fator corrupção
quando o assunto é produzir algo escrito. Os resultados de um estudo realizado
em 2011, que aponta o perfil de leitura do brasileiro que lê em média quatro
livros por ano, sendo que, destes, lê integralmente apenas 2,1 livros. O estudo
revelou, também, que o país é composto por 50% de leitores (cerca de 88,2
milhões de pessoas) e outros 50% de não leitores.
Vamos pensar um pouco... já dizia a chamada do Telecurso 2000.
Faço um curso de graduação o qual exige que eu curse em média, 40 disciplinas
ao longo do curso. Cada disciplina, aponta pelo menos 10 bibliografias para
acompanhamento da mesma, dos quais eu leio, quando livros, sei lá,
integralmente, um. Acho que não, já que eu teria lido pelo menos 40 livros ao
longo do curso. Balela.
Acredito,
em minha visão nada científica, que o problema começa aí. Não lemos, quando
lemos não aferimos coisa alguma, e quando aprendemos não aplicamos, e por aí
vai. Por outro lado, não nos iludamos, somos corruptos. Não acredita? Quando
não fazemos um trabalho, o que fazemos?! Ah, eu estava cansada,
sobrecarregada, distraída? Não. Bem, meu filho adoeceu, e eu cortei o dedo, e
meu computador queimou. Aliás, descobri que todos os computadores possíveis
queimam neste período. Perdi as contas, e essa preciso confessar, de quantas
vezes fiquei sem internet. Coitada da operadora!
O problema pode estar na reação de outrem, ou de nós mesmos.
Eu fico péssima ao reprovar em uma disciplina por estar com preguiça de
escrever. E olha que eu gosto disso. Muitas vezes, a questão de escrever um
trabalho monográfico está muito intimamente ligada aos porquês de fazê-lo.
Então, aí é que mora a exploração de meu trabalho.
Quando você entra em uma faculdade está em busca de uma
profissão, não de um diploma. Escuto muito “ah, mas eu já trabalho na área, só
preciso formar”. Mentira! Não formamos cidadãos, profissionais apenas com
experiência de serviço e sim com trocas de experiências, sejam elas técnicas,
pessoais ou acadêmicas. E essas qualidades poucos currículos conseguem
demonstrar.
Estou
com Waldez Ludwig que defende que todos nós temos um talento só precisamos
descobrir qual. Ora, uma vez ingressado no ensino superior, temos mais afinidade com uma ou outra disciplina e queremos
distância de outra. Avance naquilo que não gosta e pouco sabe e, destrua todas
as barreiras daquilo que lhe é bom e proveitoso. Tenho talento para persuadir,
mas sou uma péssima vendedora. Consegue entender? Nem eu. Vendo ideias, não
produtos.
Estou falando à bessa e você ainda não conseguiu identificar
qual sua vocação? Do que gosta? O que lhe chama atenção. Nada? Está mesmo no
curso certo? Uma grande amiga me diz gostar de tudo. Ótimo, mas em qual linha
você é bom? Precisamos nos conhecer. “Ah, eu gosto de Direito Imobiliário, mas
a professora de Direito Previdenciário é uma fofa. Acho que vou ser orientando
dela.” Você está se preparando para pular num poço fundo e sem água.
Não
interessa se seu orientador é um carrasco. Se ele não te orientar, exerça seu
poder de aluno e denuncie, e aceite a possibilidade de trabalhar sozinho. Não
tem volta. Escolha seu tema e invista nele. E mais que isso, tenha a concepção
de que este trabalho pode ser o início de sua carreira profissional. Torne-se
um especialista naquilo que buscar. Se cobre, leia mais, se divirta, sofra, mas
busque sempre fazer um trabalho todo seu. Aliás, bem dizia Virgínia Woolf, para
as mulheres, mas tomamos para a humanidade que tudo que precisamos para produzir é de um teto todo nosso. Ora,
escolha seu teto todo seu e produza.
Cabe lembrar, sou humana cheia de erros e tropeços. Uma aluna
interessada, mas relapsa. Quando comecei assessorar monografias, pensava que de
fato, aquele trabalho não avaliava o potencial do aluno e era este ser infeliz
jogado na jaula dos leões (avaliadores) por seus carrascos (os orientadores). Mas
a maturidade chega, e percebi que na verdade, temos a obrigação de produzir
algo para defender e retribuir aquilo que aprendemos. E que se depois de todo o
percurso corrido formos incapazes de executar tal projeto é porque nosso ciclo
ali ainda não terminou.
Os norteamericanos têm a cultura de retribuir financeiramente
após algum tempo de formação com doações pecuniárias aquela instituição que lhe
formou. No Brasil, nos embarreiramos com problemas tão simples como oferecer a
nossa faculdade o nosso conteúdo intelectual. Se chegamos a tal ponto e não nos
sentimos capazes de criar algo do tipo é porque, sumariamente, nada temos a
oferecer ao mercado.
Espero tocar em seus corações acadêmicos e quem sabe mover um mundo todo meu em palavras.
Sou Debora Sousa, uma bibliotecária em formação, uma assessora por devoção.